terça-feira, 26 de março de 2013


Devoção às sete dores de Nossa Senhora





A devoção, que precede a celebração litúrgica, fixou simbolicamente as sete dores da Co-redentora, correspondentes a outros tantos episódios narrados pelo Evangelho:
a profecia do velho Simeão, a fuga para o Egito, a perda de Jesus aos doze anos durante a peregrinação à Cidade Santa, o caminho de Jesus para o Gólgata, a crucificação, a Deposição da cruz, a sepultura, portanto, somos convidados hoje a meditar estes episódios mais importantes que os evangelhos nos apresentam sobre a participação de Maria na paixão, morte e ressurreição de Jesus.

As Promessas aos devotos de Nossa Senhora das Dores
Santa Brígida diz-nos, nas suas revelações aprovadas pela Igreja Católica, que Nossa Senhora lhe prometeu conceder sete graças a quem rezar cada dia, sete Ave-Marias em honra de suas principais "Sete dores" e Lágrimas, meditando sobre as mesmas.

1ª - Porei a paz em suas famílias. 
2ª - Serão iluminados sobre os Divinos Mistérios. 
3ª - Consolá-los-ei em suas penas e acompanhá-los-ei nos seus trabalhos. 
4ª - Conceder-lhes-ei tudo o que me pedirem, contanto que não se oponha à vontade de meu adorável Divino Filho e à santificação de suas almas. 
5ª - Defendê-los-ei nos combates espirituais contra o inimigo infernal e protegê-los-ei em todos os instantes da vida. 
6ª - Assistir-lhes-ei visivelmente no momento da morte e verão o rosto de Sua Mãe Santíssima. 
7ª - Obtive de Meu Filho que, os que propagarem esta devoção (às minhas Lágrimas e Dores) sejam transladados desta vida terrena à felicidade eterna, diretamente, pois ser-lhe-ão apagados todos os seus pecados e o Meu filho e Eu seremos a sua eterna consolação e alegria. 
  
Santo Afonso Ligório nos diz que Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu, aos devotos de Nossa Senhora das Dores as seguintes graças: 
 
1ª – Que aquele devoto que invocar a divina Mãe pelos merecimentos de suas dores merecerá fazer antes de sua morte, verdadeira penitência de todos os seus pecados.
2ª - Nosso Senhor Jesus Cristo imprimirá nos seus corações a memória de Sua Paixão dando-lhes depois um competente prêmio no Céu. 
3ª - Jesus Cristo guardá-los-á em todas as tribulações em que se acharem, especialmente na hora da morte. 
4ª - Por fim os deixará nas mãos de sua Mãe para que deles disponha a seu agrado, e lhes obtenha todos e quaisquer favores.
ORAÇÃO INICIAL
Virgem Dolorosíssima, seríamos ingratos se não nos esforçássemos em promover a memória e o culto de vossas Dores.
Vosso Divino Filho tem vinculado à devoção de vossas Dores, particulares graças para uma sincera penitência, oportunos auxílios e socorros em todas as necessidades e perigos.
Alcançai-nos, Senhora, de vosso Divino Filho, pelos méritos de vossas Dores e Lágrimas a graça...

1ª Oração 


Pela dor que sofreste ao ouvir a profecia de Simeão de que uma espada de dor transpassaria o vosso coração,
Mãe de Deus, ouvi a nossa prece.

Ave Maria... Glória...

2ª Oração


Pela dor que sofreste quando fugiste para o Egito, apertando ao peito virginal o Menino Jesus, para o salvar da fúria do ímpio Herodes,
Virgem Imaculada ouvi a nossa prece. 

Ave Maria... Glória...  

3ª Oração

Pela dor que sofrestes quando da perda do Menino Jesus por três dias,
Santíssima Senhora, ouvi a nossa prece.

Ave Maria... Glória...   

4ª Oração


Pela dor que sofrestes quando viste o querido Jesus com a cruz ao ombro, a caminho do Calvário,
Virgem Mãe das Dores, ouvi a nossa Prece.

Ave Maria... Glória...  

5ª Oração

Pela dor que sofreste quando assististes à morte de Jesus, crucificado entre dois ladrões,
Mãe da Divina Graça, ouvi a nossa prece. 

Ave Maria... Glória...  

6ª Oração

Pela dor que sofreste quando recebestes em vossos braços o corpo inanimado de Jesus, descido da Cruz,
Mãe dos Pecadores, ouvi a nossa prece.

Ave Maria... Glória...

7ª Oração

Pela dor que sofrestes quando o corpo de Jesus foi depositado no sepulcro, ficando Vós na mais triste solidão,
Senhora de Todos os Povos, ouvi a nossa prece.

Ave Maria... Glória...  

Oração Final

Dai-nos, Senhora, a graça de compreender o oceano de angústias que fizeram de Vós a " Mãe das Dores", para que possamos participar de vosso sofrimento e Vós consolemos pelo nosso amor e nossa fidelidade.
Choramos convosco, ó Rainha dos Mártires, na esperança de ter a felicidade de um dia nos alegrar-mos convosco no céu.
Amém.

Consagração a Nossa Senhora

Ó Santa Mãe Dolorosa de DEUS, ó Virgem Dulcíssima, eu Vos ofereço o meu coração afim de que o conserveis intacto como o Vosso Coração Imaculado.
Eu Vos ofereço a minha inteligência, para que ela conceba apenas pensamentos de paz e de bondade, de pureza e verdade.
Eu Vos ofereço a minha vontade, para que ela se mantenha viva e generosa ao serviço de DEUS.
Eu vos ofereço meu trabalho, minhas dores, meus sofrimentos, minhas angustias, minhas tribulações e minhas lágrimas, no meu presente e meu futuro, para serem apresentadas por Vós ao Vosso Divino FILHO, para purificação da minha vida.
Mãe Compassiva, eu me refugio em Vosso Coração Imaculado, para acalmar as dolorosas palpitações de minhas tentações, de minha aridez, de minha indiferença e das minha negligencias. 
Escutai-me ó Mãe, guiai-me, sustentai-me e defendei-me, contra todos os perigos da alma e do corpo, agora e por toda a eternidade.
Assim seja!
Amém.



Fonte: Salve Rainha

segunda-feira, 25 de março de 2013


Anunciação e Encarnação do Verbo de Deus - 25 de março






Anunciação e Encarnação do Verbo de Deus
Plinio Maria Solimeo
A festa da Anunciação, que se comemora no dia 25 de março, é uma das maiores da Cristandade, pois nela comemora-se o Mistério sublime da Encarnação do Verbo no seio puríssimo de Maria.
Desde o século V já se tem indícios da comemoração desta festividade mariana.
A esse Mistério foram dedicadas em toda a Cristandade inúmeras igrejas, mosteiros, ordens religiosas e inclusive uma Ordem Militar de Cavalaria, a da Anunciação, na França do século XIV.
Maria, a obra-prima das mãos de Deus
No Oriente, havendo uma festa especial para celebrar o papel de Nossa Senhora na Redenção a 26 de dezembro, a festa da Anunciação é considerada uma comemoração de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Encarnação do Verbo de Deus.
Na Igreja Latina sempre foi uma festa de Nossa Senhora.
Isso é bem compreensível, como explica o Doutor Marial por excelência, São Luís Maria Grignion de Montfort:
"Deus Padre só deu ao mundo seu Unigênito por Maria. Suspiraram os patriarcas e pedidos insistentes fizeram os profetas e os santos da lei antiga durante quatro milênios, mas só Maria o mereceu e alcançou graça diante de Deus pela força de suas orações e pela sublimidade de suas virtudes. Porque o mundo era indigno, diz Santo Agostinho, de receber o Filho de Deus diretamente das mãos do Pai, Ele o deu a Maria a fim de que o mundo o recebesse por meio dEla".(1)
Para nos explicar o amor de Deus por Maria, diz o teólogo dominicano francês Pe. Garrigou-Lagrange:
"O Verbo feito Carne ama todos os homens, pelos quais está preparado a derramar Seu Sangue. Ele ama de um modo especial os eleitos, e entre eles, de um modo ainda mais especial, os apóstolos e os santos. Porém, seu amor por Maria, destinada a estar mais intimamente associada com Ele em Seu trabalho pela salvação das almas, é o maior de todos. Mas Jesus é Deus. Assim, Seu amor por Ela produz na alma de Maria graças em superabundância, de modo a transbordar para as outras almas". (2)
"O Anjo do Senhor anunciou a Maria"
Narra São Lucas: "E o anjo, aproximando-se, disse-lhe: Salve, cheia de graça; o Senhor é contigo".
Nessa narração do Evangelista, simples em sua sublimidade, há um primeiro ponto a ser notado. Como bem pondera o Pe. Garrigou-Lagrange, seguindo Santo Tomás, "era conveniente que a Anunciação fosse feita por um anjo, como embaixador do Altíssimo. Um anjo rebelde causou a Queda; um anjo santo, o mais alto dos arcanjos, anunciaria a Redenção". (3)
"Não nos deve escapar", observa por sua vez um renomado teólogo norte-americano, "que o anjo omite o nome de Maria em sua saudação, e a designa somente pela graça (de que está cumulada). Isso denota que Ela era preeminente entre todas as criaturas pela prerrogativa da graça". E acrescenta: "Na Teologia católica graça é o princípio que vivifica a alma com vida e poder espiritual, e a torna agradável a Deus. ...
"O grau de graça a que havia chegado Maria estava acima de qualquer outro concedido a simples criatura" (4).
Isso porque, diz ainda o Pe. Garrigou-Lagrange, "o progresso de Maria foi o mais contínuo de todos. Ele não encontrou obstáculos, não foi impedido nem retardado por apegos ao próprio ser ou às coisas deste mundo. Foi o mais rápido de todos, porque o grau em que começou foi determinado pela plenitude de graças em Maria, e portanto suplantou o de todos os santos" (5).
"Ela turbou-se... considerando que forma de saudação era aquela"
"Há uma evidência de força e de gravidade feminina no silêncio de Maria ponderando a mensagem do anjo. Ela está perturbada, mas composta e pensativa. Que apropriada atitude de alma para receber uma manifestação da vontade divina -- ­silêncio e pensamento!" (6)
O Arcanjo Gabriel apressou-se em tranqüilizá-la, e o fez numa linguagem solene de acordo com a sublimidade de sua missão, agora a chamando familiarmente pelo nome para pô-la mais à vontade.
O futuro da humanidade dependia desse assentimento. Poderia Maria Virgem, concebida sem pecado original, recusar esse tremendo privilégio? Como não? Lúcifer, em quem também não havia pecado original, colocado ante uma escolha, disse não. Portanto Nossa Senhora, dotada do livre arbítrio como todos os homens, podia dizer sim, ou não. Se, por uma humildade mal interpretada, Ela recusasse essa graça como honra imerecida, o rumo da História teria sido outro.
"Como se fará isso...?"
Entre os judeus a mulher estéril era considerada desprezível, porque não tinha possibilidade de vir a ser a mãe do Messias. Que jovem judia teria hesitado um segundo em dar seu jubiloso consentimento à inexprimível honra de ser escolhida para mãe do Messias?
Entretanto Maria hesitou. Havia feito voto de virgindade e sabia que este tinha sido aceito por Deus. Por isso Ela "de um lado, amava seu virginal estado que a unia tão intimamente a Deus; de outro, desejava avidamente fazer a vontade de Deus. E agora Deus faz-lhe saber que Ela deve ser mãe..." (7).
Explica-lhe então o anjo como isto realizar-se-ia por acumulação, e não por exclusão. Comentando esse singular privilégio, o cantor da Virgem, São Bernardo, afirma:
"Não há senão uma só coisa na qual Maria não tem modelo nem imitadores: é na união das alegrias da maternidade com a glória da virgindade. Ela escolheu a melhor parte. E isto é fora de dúvida pois, se a fecundidade do matrimônio é boa, a castidade das virgens é melhor. Mas o que supera uma e outra, é a fecundidade unida à virgindade, ou a virgindade unida à fecundidade. Ora, esta união é o privilégio de Maria" (8).
"Faça-se em mim segundo Tua palavra"
Para felicidade não só dos homens, mas de todo o mundo criado incluindo o angélico, essa Virgem fiel disse sim. Tendo a verdadeira humildade, sabia que, se fora cumulada de tantas graças, não o fora senão por uma misericórdia e por um desígnio de Deus. Daí a sublime resposta que deu ser repetida por todos os séculos enquanto o mundo for mundo: "Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo Tua palavra".
A respeito dessa sublime resposta, comenta o Pe. Garrigou-Lagrange:
"Santo Tomás acrescenta que Seu sobrenatural e meritório consentimento foi dado em nome de toda a raça humana, que necessitava do Redentor prometido" (9). Segundo os teólogos, no momento desse sublime "fiat" deu-se a Encarnação.
E acrescenta aquele autor:
"Santo Tomás nos diz que a plenitude de graças em Maria cresceu notavelmente na Encarnação por meio da presença do Verbo de Deus feito carne. [De modo que] se Ela não tivesse sido ainda confirmada em graça, deveria sê-lo a partir desse momento (10).
O que, pouco depois, levaria Maria Santíssima, ainda abismada e extasiada em sua inexprimível ventura, ao ser louvada por Santa Isabel, irromper num sublime hino de louvor e de ação de graças: "Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador".
"Ir à Mãe, para chegar ao Filho"
Afirma São Luís Grignion de Montfort:
"A conduta das três Pessoas da Santíssima Trindade na Encarnação e primeira vinda de Jesus Cristo, é a mesma de todos os dias, de um modo visível, na Igreja, e esse procedimento há de perdurar, até a consumação dos séculos, na última vinda de Cristo. Ou seja, por meio de Maria sempre virgem".
E esclarece: "Deus Filho comunicou à sua Mãe tudo que adquiriu por sua vida e morte: seus méritos infinitos e suas virtudes admiráveis. Fê-La tesoureira de tudo que seu Pai lhe deu em herança; é por Ela que Ele aplica Seus méritos aos membros do Corpo Místico, que comunica Suas virtudes e distribui Suas graças. É Ela o canal misterioso, o aqueduto, pelo qual passam abundante e docemente Suas misericórdias". (11).
Que melhor fruto podemos tirar da festa da Anunciação do que seguir o Filho, utilizando o mesmo caminho que Ele fez para vir até nós? "O felix culpa que nos obteve um tal Salvador", diz a liturgia da Semana Santa referindo-se ao pecado original e à Redenção. Com toda a propriedade podemos nós acrescentar, "e que nos deu Mãe tão terníssima, Advogada tão poderosíssima, verdadeiro penhor de salvação e de vida eterna".

Notas
(1) São Luís Maria Grignion de Monfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Editora Vozes, Petrópolis, 1953, p. 26.
(2) Fr. Reginald Garrigou-Lagrange O.P., The Mother of the Saviour and our interior Life, translation by Fr. Bernard J.Kelly, CSSp, D.D., B. Herder Book Company, Saint Louis, MO (USA), 1953, p. 101.
(3) Idem, ibidem p. 99.
(4) Fr. A.E.Breen, Ph.D., D.D., A Harnonized Exposition of the Four Gospels, Keystone Printing Service, Inc., Milwakee, Wis., (USA) 1927, vol. I, p. 69.
(5) Fr. Reginald Garrigou-Lagrange, op. cit. p. 89.
(6) Fr. A.E.Breen, op. cit. p. 71.

quarta-feira, 20 de março de 2013

São José, Patrono da Santa Igreja.





S. JOSÉ, esposo puríssimo de Maria Santíssima e pai nutrício deJesus Cristo, era de origem nobre, como testificam os evange­listas Mateus e Lucas. A genealogia de José remonta a David e de David aos Patriarcas do Antigo Testa­mento. Mais importante, porém, que a origem, é a virtude que tan­to enobrece a alma de S. José: a hu­mildade. Não sabemos onde o santo Patriarca nasceu; alguns opinam que era natural de Nazaré, na Galileia, onde trabalhava na ofici­na de carpinteiro; outros porém, acham mais provável que Belém te­nha sido a cidade natal de São José pois, Belém foi a cidade de David. A mãe de José era Estha. Não deve­mos estranhar a pobreza de José. Escolhido para ser o pai adotivo do Messias, convinha que comparti­lhasse a vida pobre deste. Nada sa­bemos a respeito da infância de S. José e nem tão pouco da vida que levou, até o casamento com Maria Santíssima. Os santos Evangelhos não nos dizem coisa alguma a esse respeito; limitam-se apenas a afirmar que José era justo, o que quer dizer: José era cumpridor da lei, homem santo.

Que a virtude e santidade de S. José foram extraordinárias, vemos pela grande e importante missão que Deus lhe confiou. Segundo a doutrina de São Tomás de Aquino, Deus confere as graças e privilégios à medida da dignidade e da eleva­ção do estado, a que destina o indi­víduo. Pode imaginar-se dignidade maior que a de S. José, que, pelos desígnios de Deus, devia ser esposo de MariaSantíssima e pai nutrício de seu divino Filho?
Parece fora de dúvida que os desposórios de Maria Santíssima com São José obedeceram a um plano extraordinário da Divina Providên­cia. Maria Santíssima, consentin­do no enlace com o santo descen­dente de David, não podia ter outra coisa em mira, senão uma garantia para o futuro, uma defesa de sua virtude e uma satisfação perante a sociedade, visto que no Antigo Tes­tamento não era conhecida, e mui­to menos considerada, a vida celi­batária. Celebrando o contrato matrimonial,Maria Santíssima certamente o fez com a garantia absoluta da pureza virginal, que por inspiração divina votara a Deus. São Jerônimo afirma que S. José conservou em toda a vida a virgin­dade. Ninguém pode estranhar o título de “Irmão deJesus”, visto que os livros bíblicos empregam muitas vezes a palavra “Irmão” por “parente”. Abraão disse a Lot: “Não haja contenda entre nós, pois so­mos “Irmãos”. E Abrão não era irmão, mas tio de Lot.
Realizou-se a gran­diosa obra da Encar­nação do Verbo Uni­gênita de Deus. O Ar­canjo S. Gabriel sau­dou a Maria e comuni­cou-lhe o grande mis­tério, que nela se havia de realizar. Maria pronunciou o “fiat”, con­sentindo na materni­dade que se operaria nela pelo Espírito San­to, e deixou a São José em completa ignorân­cia. Com esse consenti­mento, dirigiu-se à ca­sa de S. Isabel, onde se demorou três meses e, de volta para casa, seu estado causou no espí­rito de José as mais graves preocupações e cruéis dúvidas. A vir­tude e santidade da esposa estavam acima de qualquer suspeita, não lhe permitindo ex­plicação menos favo­rável. De outro lado se vai diante de uma rea­lidade, que lhe tortu­rava a alma. Nesta perplexidade invencí­vel, resolveu abando­nar a esposa. Quando já tinha providenciado tudo para a partida, apareceu-lhe, em sonho, um Anjo do Senhor e disse-lhe: “José, Filho de Davi, não temas ad­mitir Maria, tua Esposa, porque o que nela se operou, é obra do Espí­rito Santo”. Foram assim de vez dissipadas as negras nuvens do espírito de José. É mais fácil imagi­nar do que descrever a alegria que lhe foi na alma, sabendo do grande mistério, que se operava em Maria. Com quanto respeito, com quanta atenção não teria tratado aquela, que pela fé sabia ser o tabernáculo vivo do Messias.

Nascimento de Jesus - Fra Angélico
A época do nascimento de Jesus coincidiu com a publicação de um decreto do imperador Augusto, exi­gindo que os súditos romanos se alistassem na cidade de origem. Foi necessária esta determinação im­perial, para que se cumprissem as profecias do antigo Testamento, que indicavam Belém como cidade onde havia de nascer o Messias. José e Maria, sendo da família de David, em obediência ao decreto, fizeram a jornada para aquela cidade. O Messias, prestes a aparecer, chegou ao que era seu e os seus não o re­ceberam. Fecharam-se-lhe todas as portas, e os pobres pais outro abri­go não acharam, a não ser uma estrebaria fora da cidade. Provação duríssima para um coração tão ex­tremoso como era o de S. José. Essa tristeza foi largamente recom­pensada, dando lugar a uma ale­gria incomparável, quando, naquela noite do desterro, Maria Santíssima deu à luz o Filho de Deus. Com que transportes de alegria não teria con­templado o divino Infante com que satisfação não o teria tomado nos braços e coberto de ternos beijos!
Esta alegria foi aumentada ain­da pelas circunstâncias extraordinárias, que acompanharam o gran­de acontecimento: A aparição dos Anjos nos campos de Belém e o celestial canto, que igual o mundo jamais ouvira, desde sua existência, o comparecimento dos pobres pas­tores no estábulo, mais tarde a che­gada dos reis Magos do Oriente. To­dos estes fatos, cada qual mais ex­traordinário, despertaram em São José novos motivos, não só de aletria, como também de grande ad­miração. Pela primeira vez lhe sur­giu no espírito bem nítida, a subli­me missão que Deus na sua bonda­de lhe tinha reservado, a missão de Pai nutrício de seu Filho Unigêni­to. Este conhecimento, se bem que o tenha confundido, de certo lhe encheu a alma de paz indescrití­vel.

Apresentação de Jesus no Templo - Fra Angélico
Passados quarenta dias, José, em companhia do Menino Deus e Ma­ria Santíssima, se dirigiu a Jerusa­lém, em obediência à lei, que exigia a apresentação do filho no templo. Sentiu-se-lhe a alma profundamen­te comovida, pela recepção que tive­ram do velho Simeão. Este, sem an­tes ter visto a criança, conheceu nela o Filho de Deus e, no transpor­te de satisfação que lhe invadiu a alma, desejou morrer.
Pouco tempo depois S. José rece­beu de Deus a ordem de fugir com a família para o Egito, para assim salvar a vida da criança, seriamente ameaçada pelo rei Herodes. Sem demora se pôs a caminho e ficou no Egito até segunda ordem. Esta veio, quando os perseguidores de Jesus tinham morrido, e José voltou para a sua terra. Por caute­la, porém, não ficou em Belém, mas se estabeleceu em Nazaré.

A perda e o encontro de Jesus no Templo Discutindo com os Doutores da Lei
Conforme o costume na terra dos judeus, José ia anualmente, por ocasião da Páscoa, a Jerusalém, pa­ra oferecer a Deus no templo, os sacrifícios prescritos pela lei. Quan­do o Menino Jesus tinha doze anos, foi pela primeira vez com os pais a Jerusalém. No dia da partida Je­sus ficou no templo, sem que os pais o soubessem. Resultou daí a grande aflição para as duas santas pessoas, que, com a maior ânsia, procuraram o filho durante três dias, ora nas casas dos parentes, ora entre os grupos de romeiros já de volta, até que o acharam no Templo, sentado no meio dos sacerdotes e escribas. Jesus desceu com os pais para Nazaré e ficou-lhes sujeito.
É tudo quanto sabemos de São José e o que os santos Evangelhos dele nos relatam. Sendo a Sagrada Família legalmente constituída, José era considerado pai de Jesus e Jesus filho do carpinteiro. Não de­vemos pôr em dúvida que José te­nha trabalhado com toda dedica­ção para ganhar o sustento das pessoas confiadas ao seu cuidado. Da mesma forma é certo que Jesus cumpriu para com ele as obriga­ções de filho, prestando-lhe obe­diência, respeito e amor do modo mais perfeito.

Morte de São José
Ignora-se quando S. José mor­reu. Há razões que fazem supor que o desenlace se tenha dado an­tes da vida pública de Jesus Cris­to. Certamente não se achava mais entre os vivos quando seu Filho morreu na cruz; do contrário não se explicaria porque Jesusrecomen­dou a Mãe a S. João Evangelista, não tendo para isto razão, se estives­se vivo S. José.
Que morte santa terá tido o Pai nutrício de Jesus! Que felicidademorrer nos braços do próprio Je­sus Cristo, tendo à cabeceira a Mãe de Deus! Mortal algum teve igual ventura. A Igreja com muita razão invoca S. José como padroei­ro dos moribundos e os cristãos se lhe dirigem com confiança, para alcançar a graça de uma boa mor­te.
Não existem relíquias de S. José, nem tão pouco sabe-se algo do lu­gar onde lhe foi sepultado o corpo. Homens ilustrados e versados nas ciências teológicas houve e há, que defendem a opinião de que S. José, em atenção a sua alta posição e grande santidade, foi, como S. João Batista, santificado antes do nasci­mento e já gozava de corpo e alma da glória de Deus no céu, em com­panhia de Jesus, seu Filho e Maria, sua santíssima Esposa.
Grande deve ser a nossa confiança na intercessão de S. José. A dig­nidade, a amizade íntima com Je­sus e Maria, o lugar proeminente no plano da Redenção, são outros tantos títulos que lhe garantem a influência e o poder junto ao tro­no de Deus. Não há pessoa, não há classe que não possa, que não deva se lhe dirigir. Santa Tereza, a gran­de propagandista da devoção a São José, chegou a dizer: “Não me lembro de ter-me dirigido a São José, sem que tivesse obtido tudo que pedira”.
A devoção a S. José na Igreja Ca­tólica é antiquíssima. A Igreja do Oriente celebra-lhe a festa, desde o século nono, no domingo depois do Natal; os Coptos comemoram-na no dia 20 de julho. Os Carmelitas in­troduziram-na na Igreja ocidental. Os Franciscanos em 1399 já festeja­ram a comemoração do santo Pa­triarca. Xisto IV inseriu-a no bre­viário e no missal; Gregório XV ge­neralizou-a em toda a Igreja. Cle­mente XI compôs o ofício, com os hinos, para o dia 19 de março e colocou as missões da China sob a proteção de S. José. Pio IX introdu­ziu, em 1847, a festa do Patrocínio de S. José, e em 1871 declarou-o Pa­droeiro da Igreja Católica; Leão XIII e Benedito XV recomendaram aos fiéis a devoção a S. José, de um modo particular, chegando este último Papa a inserir no missal um prefácio próprio.

Retirado e adaptado do livro: Lehmann, Pe. João Batista , S.V.D., Na Luz Perpétua, Lar Católico, Juiz de Fora, 1956.